O imperativo ético-estético



Crise é encruzilhada. É o momento para se repensar paradigmas, inclusive os tecnológicos. Faz todo o sentido falar, nesse momento, em reconversão das indústrias, arquitetura verde e biodesign (variante - quando não sinônimo - de ecodesign). Em relação ao último, o desafio é pensar em como reunir técnicas e natureza, ou melhor, como engastar elementos naturais em objetos técnicos, como empreende a Ecovative Design, que cria novos materiais a partir de cogumelos. Essa também é a proposta de um novo paradigma estético, representado no diagrama dos objetos, inspirado em ideias de Mikel Dufrene. É possível acoplar um objeto natural a um objeto técnico visando a criação de um objeto de arte? Há indícios que sim. Os pioneiros da bioarte já haviam aventado essa hipótese, artistas como Stelarc, Patricia Piccinini e o coletivo Symbiotica. Todavia, queremos ir mais além do transhumanismo e da biotecnologia. Muito mais além do que propõem os artistas que hoje misturam Inteligência Artificial e arte, como Refik Anadol em Machine Hallucinations / Nature Dreams, "serviço" de aprendizado de máquina que mescla 46.474.696 imagens de paisagens ao som de As Quatro Estações, do compositor italiano Antonio Vivaldi (aqui, é como se o artista quisesse chegar ao objeto belo contornando objeto estético, como se ele quisesse chegar à lua subindo até a copa de uma árvore). Não queremos também o cenário distópico encenado na animação Bruce, onde a natureza da carne entra em choque com as técnicas dos games. Queremos que o objeto de arte proposto em nosso exercício, quiçá tornado objeto estético, converta-se também em um objeto de uso. Não nos importa se esse objeto estético seja belo ou não. Não há esse imperativo. Se for, melhor. É assim o trabalho do grupo japonês teamLab, acusado de produzir obras ornamentais, mas que no fundo só apontam para a anulação de bordas, entre conceito e mundo físico, entre moderno e tradicional. O que importa é que esse objeto estético seja útil e desperte, ao mesmo tempo, noções éticas, hoje totalmente voltadas ao consequencialismo de matiz utilitarista, para o qual é preciso sacrificar o local em nome do global (a chamada razão instrumental, ou “os fins justificam os meios”). Queremos que a obra de arte faça surgir uma ética do senso comum e não permita ações que nos façam executar um inocente para salvaguardar vinte outros. Ora, queremos os vinte e um vivos! O diagrama, e o desafio sugerido com a tarefa dos baralhos metodológicos, serve igualmente para resgatar o imperativo estético-ético de um dos pais da cibernética, Heinz von Foerster, traduzido na frase: se você deseja ver, aprenda a agir!

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